Em alguns textos do E-jovem é comum aparecer o termo hebifobia. Este é um termo raro. Tão raro que não há registros de sua utilização no Brasil, a não ser aqui. Na verdade, a palavra foi usada pela primeira vez por Deco Ribeiro e por um bom tempo ele achou que a havia criado. Foi uma surpresa quando descobrimos que os americanos já utilizavam formas bem parecidas (ephebiphobia e hebephobia) e com os mesmos significados. A partir desse ano, lutar contra a hebifobia é parte integrante da missão do Grupo E-jovem. Segundo Deco Ribeiro, hebifobia é simplesmente “o sentimento de que todo adolescente é idiota e não sabe o que faz.” O conceito utilizado por psicólogos americanos é um pouco mais abrangente.
Segundo eles, Hebifobia (do Grego 'hebe' = jovem e 'fobos' = medo, aversão), é o medo irracional de adolescentes ou da adolescência, bem como o preconceito contra adolescentes, principalmente aqueles menores de idade. É uma fobia social comparável à xenofobia ou à homofobia.
Definições
A Hebifobia pode se manifestar das seguintes formas:
• medo irracional de estar perto, junto ou na companhia de adolescentes;
• o preconceito por causa da idade (etário) contra adolescents e menores de idade, ou a discriminação derivada desse preconceito;
• o medo, preconceito, ódio, intolerância ou discriminação contra relacionamentos amorosos entre adultos e adolescents;
• o medo, pânico ou histeria irracional, geralmente com apoio da mídia, relacionado a tudo que diz respeito à liberdade social ou comportamental de adolescentes (baseado na crença de que tal comportamento seria mais apropriado para adultos).
O conceito engloba o medo irracional frente a uma série de situações, indo de sexualidade adolescente, gravidez adolescente, gravidez infantil e maternidade adolescente até propostas de mudanças na lei para garantir mais direitos aos jovens, como a redução da idade de voto, da idade de maioridade, da idade de casamento, da idade de consentimento sexual, da idade de candidatura a cargos eletivos ou na garantia de mais direitos aos estudantes. No Brasil, um exemplo de hebifobia estimulada pela mídia é o verdadeiro pânico que se instaura a qualquer manifestação estudantil pelo passe livre, por exemplo.
Adultocentrismo
Adultocentrismo é uma forma de discriminação contra adolescentes só por causa de sua pouca idade. Como se só aquilo que o adulto pensa ou faz fosse válido e só seus interesses fossem importantes. Adolescentes vítimas de adultocentrismo reclamam que esse foco apenas na idade faz com que muitas pessoas os estereotipem incorretamente, afirmando, por exemplo, que todos os adolescents são igualmente imaturos, violentos ou rebeldes. acreditam que deveriam ser tratados Alguns jovens organizam grupos para serem tratados com mais respeito por parte dos adultos e não como cidadãos de segunda classe. Um número crescente de sociólogos têm considerado a discriminação contra jovens, o adultocentrismo e a hebifobia como graves problemas para se avaliar a real condição dos adolescentes em nossa sociedade.
Formas patológicas de hebifobia
Em casos extremos, formas patológicas de hebifobia podem ser observadas, especialmente quando associadas a atos violentos (geralmente, mas nem sempre, resultando em atos criminosos).
Possíveis comportamentos patológicos incluem, entre outros, o seguinte:
• encarcerar adolecentes em casa por longos períodos de tempo, ou utilizando algemas (por qualquer período de tempo), usualmente para prevenir que o jovem vá a festas, ao shopping, ao cinema ou qualquer outro lugar onde eles possam potencialmente desenvolver algum relacionamento social ou amoroso;
• humilhar vigorosamente um adolescente em público;
• esconder compulsivamente ou obssessivamente uma adolescente grávida de olhares públicos (como se ela tivesse uma doença contagiosa), chegando até a se mudar ou viajar para outro lugar (bairro, cidade região ou país) com o único propósito de esconder a gravidez;
• Coagir ou induzir uma adolescente a abortar à força, por meio de violência, uso de terror ou qualquer tipo de ameaça (como se o bebê fosse propriedade do agressor).
Artigo 232
O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 232, diz que é crime “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento.” A pena é de detenção de seis meses a dois anos. Esse artigo é muito sério. Bem administrado, ele praticamente criminaliza tanto a homofobia quanto a hebifobia quando praticada por um pai ou um professor contra um adolescente. Um prato cheio para quem pretende combater o adultocentrismo – e uma vantagem que só os E-jovens têm, infelizmente. Para os adultos, o racismo é crime, mas a homofobia não. A eles cabem guardar os jovens e dar-lhes segurança, não ódio, discriminação e omissão.
Jovem, reaja!! Hebifobia e homofobia são crimes contra o adolescente. Se você se sentir discriminado, denuncie.
Deco Ribeiro é fundador do E-jovem
Homofobia na Escola Meninos agridem mais outros alunos gays e são muitas vezes estimulados pelos professores
Deco Ribeiro
Nikky (ela prefere usar o apelido) se orgulhava de ser aluna de uma escola particular tida como ‘liberal’ em Santos. Não precisava usar uniforme completo, podia usar piercings e ela até já foi pra escola de moicano, um penteado punk com pontas de um palmo de altura. Casais de namorados podiam se beijar à vontade, ao contrário de outras escolas, e ela não pensou duas vezes antes de beijar sua namorada no pátio do colégio. A reação foi devastadora. “Um amigo meu veio me dizer que achava que eu quis aparecer, que se eu queria ser lésbica, que fosse entre quatro paredes. Que as pessoas não eram obrigadas a ver isso”.
Essa intolerância é enfrentada por milhares de alunos e alunas homossexuais da rede de ensino todos os dias. Parte dessa intolerância acaba resultando em violência escolar. “Eu sofri agressões físicas, verbais e ‘tecnológicas’,” desabafa Augusto Kobayashi, aluno do ensino médio e assumidamente homossexual. “Levava socos, chutes, cotovelatas, joelhadas e empurrões.” Augusto ainda diz que o grupo de meninos que o importunava, não satisfeito com as agressões físicas e verbais, espalhavam pelos computadores da escola imagens dele caracterizado como travesti e com as unhas pintadas de rosa (imagem ao lado).
Fenômeno masculino Segundo pesquisa da UNESCO divulgada em 2004, 28% dos alunos do ensino fundamental e médio do estado de São Paulo não gostariam de ter homossexuais como colegas de classe. Essa proporção aumenta se enfocarmos apenas os alunos do sexo masculino: cerca de 41% dos meninos não toleram colegas gays ou lésbicas.
No livro “Juventude e Sexualidade”, resultado de uma pesquisa da UNESCO sobre AIDS, Drogas e Violência das Escolas, fica claro que a discriminação contra homossexuais (também chamada de homofobia), ao contrário das de outros tipos, é não apenas mais abertamente assumida, pelos meninos, como é valorizada por eles, o que sugere um padrão de afirmação de masculinidade. “A homofobia pode expressar-se numa espécie de terror de não ser mais considerado como um homem de verdade”, afirmam as pesquisadoras.
Segundo a mesma pesquisa, “bater em homossexuais” foi classificada pelas meninas como a terceira forma de violência mais grave, atrás apenas de “atirar em alguém” e “estuprar”, enquanto para os meninos ela ocupa apenas a sexta posição, atrás de “usar drogas” ou simplesmente “andar armado”.
Essa conclusão encontra eco entre outros pesquisadores e profissionais que lidam com jovens, dentro e fora do Brasil. O holandês Theo van der Meer, que entrevistou mais de 300 agressores de homossexuais condenados, concluiu que todos são homens e sofrem de uma auto-estima baixa ou exageradamente alta. Para esses jovens, bater em homossexuais – que eles consideram fracos e afeminados – seria como um ritual de passagem, uma afirmação de força. Murilo Moura Sarno, médico do programa da Saúde da Família de São Paulo e que conversa com alunos da rede pública sobre sexualidade, já presenciou esse potencial de agressão. “Um aluno da oitava série afirmou categoricamente que se encontrasse um casal gay num shopping, iria esperar na garagem com um bastão de ferro para quebrar a cabeça dos dois até matar o casal,” afirmou o médico. “E foi apoiado pelos outros amigos”.
Professores preconceituosos João Augusto, aluno homossexual de um cursinho pré-vestibular em São Paulo, se sente extremamente ofendido com as diversas piadinhas feitas pelos professores – quase todas tendo gays como alvo. “Como fazer com que essas piadinhas acabem, sem me expôr?”, questiona ele. “O que fazer quando as pessoas que deveriam nos proteger em sala são as que mais agridem?”
Segundo a UNESCO, isso é normal. “Muitas vezes os professores não apenas silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução de tal violência,” afirma a pesquisa. Os dados mostraram que apenas 2,3% dos professores do estado não gostariam de ter alunos homossexuais. “Mas alguns consideram que as brincadeiras não são manifestações de agressão,” ressalta a pesquisa, “naturalizando e banalizando expressões de preconceito.”
Todos os especialistas consultados concordam que o silêncio é a pior forma de se lidar com o assunto. “Precisamos de intervenções mais sérias nas escolas,” sugere o médico Murilo Sarno, “Primeiro sobre cidadania, depois sobre sexualidades, todas elas.” A conclusão da UNESCO vai além e pede por investimentos em uma “cultura de convivência com a diversidade” que até pode se valer da informação, mas que deve se utilizar, principalmente, do “debate e o questionamento das irracionalidades que sustentam discriminações.”
Os alunos fazem coro. “Falta diálogo,” diz Nikky. “Na minha classe um certo professor se referia às lesbicas como 'sapatonas machos e etc'. Um dia cheguei pra ele em particular e disse que aquilo me ofendia. Nunca mais ele falou.” Augusto acha que a escola simplesmente não enfoca o assunto. “Assim como temos aulas de biologia e história, deveriam reservar algumas aulas para tratar de cidadania, direitos e deveres, promover um debate entre os alunos, levar palestrantes, mostrar que os homossexuais não têm nada de diferente. As pessoas tendem a ter preconceito daquilo que nunca tiveram contato e esse debate ajudaria e muito no combate à discriminação contra os homossexuais e contra todos os outros tipos de minorias.”
A visão de um E-jovem
Renato tem 15 anos e é um E-jovem de Recife (PE). Não só isso: ele é um dos coordenadores do E-Recife, o Grupo E-jovem de lá!! Sabendo do nosso tema desse mês, ele resolveu ir na sua própria escola e, conversando com seus próprios amigos, teceu ele mesmo um panorama bem legal do preconceito existente. Repare como suas conclusões não são muito diferentes da matéria acima - escrita em SP - o que comprova que esse fenômeno vergonhoso se estende realmente de norte a sul do país.
Deco =]
O Preconceito Nas Escolas
"Tenho medo de ir para a meu colégio e ser agredido por alguém por minha opção sexual." (R.C.L., 15 Anos)
O medo vai tomando conta dos E-Jovens de todo Brasil. Muitos chegam até a deixar de estudar por conta do preconceito que há em sua escola, outros vão, mas vão com medo. "A cada dia que se passa, fico admirado com tanto preconceito nas escolas," diz Anna, 46 anos, mãe de um aluno gay. "A cada dia que se passa, parece que as coisas pioram."
Os índices de preconceito e violência nas escolas estão aumentando cada vez mais e até professores e coordenadores sofrem com isso. Isabela, 16, estudante, ficou muito triste com um amigo seu ao presenciar uma forte cena de preconceito. "Ele tirava sarro da cara do professor só porque ele é homossexual e dança em uma quadrilha," diz ela muito desapontada. "Infelizmente eu não podia fazer nada..." E infelizmente somos 'obrigados' a ver e aceitar isso.
Hoje em dia, os jovens não respeitam seus próprios pais - se você vai na esquina comprar pão, tem filho brigando com pai, se você abre o jornal tem uma reportagem enorme dizendo que filho mata pai -, quem dirá os professores e etc?!
E isso é só um pouco do que se passa em nossos colégios, que fazem 'de tudo' para acabar e/ou diminuir o preconceito. Por sorte de uns, alguns colégios têm um bom resultado, já em outros é totalmente o contrário.
Por que tanto jovem bonito, feliz, brincalhão, mas com tanto preconceito? Isso leva alguém a algum lugar? Claro que não! Se nós quisermos ser pessoas admiradas por todos, pessoas que todos gostam e respeitam, temos que respeitar a qualquer um, a qualquer diferença que as pessoas tem, afinal, não somos iguais, e são essas diferenças que fazem do ser-humano pessoas marcantes em nossa vida.
Renato, 15 E-Recife (PE)
Depoimentos:
Quanto ao Preconceito Sofrido Pelos Homossexuais:
"O que me fez sofrer mais foi quando descobri que minha amiga tem preconceitos com lésbicas." (M.C., 14 anos), desabafando sua dor.
"Ao tocar o alarme do intervalo do meu colégio, quando fui me direcionando para as escadas levei um chute forte, senti um choque em meu corpo." (R.C.L., 15 anos)
"Toda vez que passo por um grupo de pessoas em meu colégio, sou xingado, abusado, e desmoralizado." (B., 15 anos)
Quanto a "O que fazer para diminuir o preconceito":
"Acho que primeiramente começamos influenciando aos nossos amigos que têm preconceito." (L. P., 17 anos)
"Acho que conversa, campanhas.... tudo isso ajuda muito no combate ao preconceito." (B. K., 17 anos)
"Sinceramente, não sei o que fazer, mas acho que temos que ter em mente que são todos normais." (K., 15 anos)
Quanto ao "choque" ao saber que seu amigo era gay ou lésbica:
"Foi tudo muito normal, eu não imaginaca isso dele, mas já que é, num posso fazer nada. Eu gosto dele assim mesmo." (P.V., 14 anos)
"Eu nunca imaginava isso do meu amigo, mas estou lhe dando o maior apoio, a escolha é dele, a vida é dele, não tenho porque ficar sem falar com ele." (F.A., 18 anos)
"Eu ficava tirando onda com a cara dele, dizendo: 'R., nunca pude imaginar isso de você...' Mas foi só arriação mesmo, ando muito com ele e o ajudo nos podres dele...
Sobre as agressões:
"Já vi muitas, inclusive com minha amiga que é lésbica, infelizmente isso acontece." (P.M., 14 anos)
"Eu já vi meu amigo sendo agredido por um menino, fui correndo chamar uma pessoa para ajudá-lo, tive pena dele." (I., 15 anos)
"Ainda não presencicei nada, e espero não presenciar." (I. C., 16 anos)
Renato entrevistou meninos e meninas, hetero e homossexuais.
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